Em 23 de dezembro de 1787, com o apoio do
poderoso Joseph Banks, o HMS Bounty zarpou de Spithead, Reino Unido, em uma
missão oficial de sua majestade com o objetivo de chegar ao Taiti. William
Bligh, tenente que navegara com o já imortalizado capitão James Cook, dirigia a
viagem e ocupava o cargo de "capitão". Com ele, iam 45 homens, que
apesar de experientes, ainda não conheciam as belezas da ilha de Otaheite (ou
seja, o Taiti para o resto do planeta!).
Quem conhece um pouco da história das grandes
navegações deve saber que a viagem não acabou muito bem para o capitão e outros
18 tripulantes. Na manhã de 28 de abril de 1789, os marujos do Bounty,
liderados pelo segundo oficial no comando, Fletcher Christian, expulsaram o
capitão e seus aliados do navio, pondo-os a bordo de uma pequena lancha no meio
do oceano Pacífico, com provisões para cinco dias, uma bússola e um diário de
bordo. Os desdobramentos daquele dia fizeram do motim no Bounty o mais famoso
levante da história da Marinha Britânica. É baseado nesses fatos que John Boyne
constrói a trama que dá forma a este livro.
Para mim, uma das características mais bacanas
do autor é mesclar referências históricas com ficção através do olhar ingênuo
de uma criança. Foi assim em O Menino do Pijama Listrado, que vocês já puderam
conhecer através do blog. No caso de O Garoto no Convés, o nosso narrador é o
jovem John Jacob Turnistile, de apenas 14 anos, e que carrega consigo uma
história de abusos, inclusive de natureza sexual.
Após roubar o relógio de bolso de um fidalgo
francês, Turnistile acaba detido e se vê encurralado entre passar doze meses no
calabouço ou dezoito meses em "liberdade" como criado do capitão
Bligh no HMS Bounty. A missão dos marujos era a seguinte: chegar ao Taiti para
plantar e coletar mudas de fruta-pão, que seriam levadas até a colônia inglesa
nas índias ocidentais a fim de baratear os custos da Coroa com a alimentação
dos colonos. Na época, Turnistile não sabia o que era uma fruta-pão, muito
menos onde ficava Otaheide, mesmo assim optou por seguir viajem com a
embarcação.
No geral, a viagem até Otaheide foi tranquila,
na época muitos comandantes puniam os marinheiros indisciplinados com
chibatadas, mas até então apenas um homem havia sido açoitado no Bounty. Os
problemas começaram em terra firme, quando os homens atracaram na ilha e
descobriram um paraíso cheio de prazeres e mulheres seminuas. Foram cinco meses
de trabalho, fartura em comida e sexo com as nativas. Até mesmo o jovem
Turnistile caiu de amores por uma delas. Mas a hora de partir chegou e muitos
marujos ficaram descontentes com isso, alguns haviam construído laços com as
mulheres da ilha, se apaixonado, e não queriam voltar para o mar e para casa.
Vinte e quatro dias após deixarem a ilha, os insurgentes deram início ao motim
que ficaria marcado na história para sempre.
A relação entre o capitão Bligh e John Jacob
passou a tomar ares fraternais, mesmo sendo apenas um serviçal, o menino
conquistou a confiança e a lealdade do capitão. Como era órfão de pai e mãe, e
havia sido criado por um pulha, Turnistile enxergou em Bligh um pai, e foi por
isso que embarcou com o capitão na lancha, junto aos 17 homens leais. Essa é a
parte mais emocionante do livro, nela o menino narra os 49 dias em que os
marinheiros ficaram no mar, completamente amontoados e contando apenas com uma
bússola e a boa memória do capitão para se salvarem. O plano era chegar ao
Timor, na África, e procurar ajuda dos holandeses que lá viviam, mas a escassez
de comida e água, além da falta de ferramentas apropriadas, dificultaram o
percurso e deixaram os marinheiros muito debilitados.
Eu gostei do livro e comecei a fazer parte do
Team Bligh. A admiração de John Jacob pelo capitão é contagiante! Só achei o
livro muito grande, são 493 páginas, e apesar da linguagem jocosa do narrador,
terminei a leitura exausta. Essa obra é mais madura do que as outras do mesmo
autor, até mesmo pela conotação sexual, mas não deixa de ser emocionante.
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