No mês de agosto nós
propomos um desafio, onde cada pessoa deveria ler quatro livros em 30 dias.
Para saber se nós conseguimos ou não bater a meta, basta clicar no vídeo abaixo:
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
terça-feira, 23 de setembro de 2014
“O urubu-rei” e outras conto-preciosidades brasileiras em livro
Obra
de Marco Haurélio reúne rico acervo com 22 contos regionais apurados em
trabalho que durou cinco anos
O
cordelista e pesquisador da cultura popular brasileira Marco Haurélio, na
tentativa bem-sucedida de reunir contos populares recolhidos diretamente da
memória coletiva do brasileiro, deu origem ao livro O urubu-rei e outros contos do Brasil,
que chega agora pela Volta e Meia – selo infantil da editora Nova
Alexandria. São 22 histórias apuradas entre 2005 e 2010, em um trabalho
minucioso, que procura manter não só a essência como a oralidade de tais
narrativas.
A
maior parte dos envolvidos no projeto é do interior da Bahia, onde a caatinga
abraça o cerrado. As primeiras narrações se situam nos domínios da fábula, pois
pertencem ao tempo em que os bichos falavam. Outras histórias têm base no
conhecimento religioso, como emAdão e Eva, versão paralela ao relato
bíblico do Gênesis. Neste, explica como surgiu o pomo de Adão, o gorgomilo, a
origem da agricultura e do extrativismo vegetal.
Os
contos de fadas também se fazem presentes, a exemplo de O cavalo encantado e de Maria Borralheira,
uma versão muito bem “abrasileirada”, se assim podemos dizer, do clássico
Cinderela, dos irmãos Grimm. O autor considera que, “dentre tantas pedras preciosas do nosso garimpo”, O Urubu-Rei, a versão baiana do Rei
Lear é a mais valiosa delas.
“O
nosso conto, no entanto, ameniza o lado trágico da peça de Shakespeare, pois
traz um príncipe enfeitiçado numa ave de rapina das regiões tropicais, o
urubu-rei (Sarcoramphus papa), que vem a ser o salvador da heroína, expulsa e
condenada à morte pelo pai por sua sinceridade no relato de um sonho”,
diz ele.
Para
dar um “empurrãozinho”, o Vocabulário tira a dúvida no caso de expressões como
“de bucho”, que significa grávida; “tirar tirão”, que na verdade nada mais é
que divertir-se à custa do outro. E sinônimos como “Cão”, referência ao Diabo;
“Manga”, que ao invés da fruta, refere-se ao pasto, entre outros.
Se
essa obra, que une tantas outras em um projeto único – em número e qualidade –
é importante e essencial para o público infantil, deve também ser tratada como
obrigatória para todos aqueles que desejam conhecer mais da cultura brasileira.
São 87 páginas de uma leitura curiosa e instigante, que por muitas vezes te
permite ouvir a voz e velocidade no discurso de cada narrador, já que Haurélio
preocupou-se muito com essas características.
O
autor, por ele mesmo:
Nasci
numa localidade chamada Ponta da Serra, no sertão da Bahia, hoje pertencente ao
município de Igaporã. Na época em que nasci era parte do município de Riacho de
Santana. A casa de minha avó Luzia Josefina (1910-1983) era, como se dizia
então, parede e meia com a de meu pai. Sempre que podia, ia à sua procura para
ouvi-la narrar as histórias fabulosas que me transportavam para reinos
distantes, habitados por heróis valorosos, princesas encantadas e gigantes
orgulhosos. E também para a leitura noturna dos folhetos clássicos da
literatura de cordel, como João Acaba-Mundo e a serpente negra, de Minelvino
Francisco Silva, e Juvenal e o dragão, de Leandro Gomes de Barros. Desde os
sete anos, passei a anotar essas histórias, ao mesmo tempo em que já escrevia
meus primeiros folhetos de cordel.
Passou
o tempo, cursei Letras Vernáculas na Universidade do Estado da Bahia em Caetité
e, já no final do curso, inspirado pelos poderosos exemplos de Luís da Câmara
Cascudo e Sílvio Romero, resolvi reunir em uma ou em várias publicações a rica
tradição oral da região. Foi um trabalho árduo, mas reconfortante, pois, a cada
história gravada ou anotada, estabelecia-se um vínculo de amizade com o
narrador, e a certeza de que, aqui e ali, eu garimpava algumas pedras
preciosas. O trabalho, iniciado em 2005 e jamais interrompido desde então,
resultou em vários livros que incluem a contística e a poesia popular (cancioneiro).
Algumas joias deste garimpo, que, mesmo lapidadas, não escondem as marcas da
oralidade, compõem este livro. Outras foram recriadas em cordel e, misturadas
às minhas memórias afetivas, ajudam a compor parte de minha trajetória como
poeta cordelista e pesquisador da cultura popular brasileira.
Ficha
Técnica:
Tamanho: 14X21cm
Páginas: 96
ISBN: 9788565746335
Preço
de capa: R$
25,00
Fonte:
Assessoria de Imprensa
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Biblioteca Digital Camões disponibiliza diversos livros de literatura
Leitores podem encontrar títulos como “A Pavorosa
Ilusão”, de Manual Maria Barbosa du Bocage, “As Pupilas do Senhor Reitor”, de
Júlio Dinis, “Alto da Alma”, de Gil Vicente, entre muitos outros.
Confira a lista completa no site da biblioteca.
Fonte:
Catraca Livre
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Com livros achados no lixo, morador do DF aprende a ler e se torna médico
Órfão
aos 2 anos, ele cresceu no Chaparral e buscava comida pelas ruas.
Cícero conheceu obras de Bach, Beethoven e Kafka por meio dos descartes.
Cícero conheceu obras de Bach, Beethoven e Kafka por meio dos descartes.
Cícero Pereira Batista mostra livros achados no lixo e com os quais estudou para virar médico (Foto: Raquel Morais/G1) |
Órfão de pai aos 2 anos e tendo a mãe alcoólatra e um
dos sete irmãos traficante, o médico de Brasília Cícero Pereira Batista, de 33 anos,
conseguiu vencer as adversidades estudando a partir de livros que retirava do
lixo. Ainda criança, ele saía do Chaparral, onde a família mora até hoje, e
percorria 20 quilômetros todos os dias pelas ruas de Taguatinga em
busca de comida.
Junto com as sobras de
alimentos descartados no lixo, Batista recolhia todos os livros que encontrava
e vinis de Beethoven e Bach, atualmente suas inspirações. Ele se formou há
menos de três meses e agora sonha em abrir um consultório.
"Meu pai era quem fazia
o sustento de casa, e morreu de uma úlcera que provocou hemorragia interna.
Minha mãe ficou louca e bebia muito. Ela começou a lavar roupa para fora e a
catar latinha no meio da rua, mas não era suficiente. A gente sempre passou fome,
tudo o que ela fazia não dava jeito. E meu irmão levava traficante para a nossa
casa. Aliados a nossa miséria, tínhamos o alcoolismo e as drogas dentro de
casa. Eu saía para buscar comida – a gente não tinha mesmo, não tinha nem o que
vestir – e tinha dias que não voltava. Eu não precisava, mas tinha dias que
dormia na rua para não ter que aguentar as brigas", lembra.
Na procura por alimento, o garoto encontrou coisas que
lhe despertavam uma atenção ainda maior. As páginas cheias de letras e figuras
e os discos o deixavam fascinado, ainda que misturados ao chorume que havia no
lixo. Cícero sempre reservava um pedaço da caixa que carregava para os
"tesouros". Com a ajuda de vizinhos, ouvia os vinis e pôde aprender a
sonoridade de cada letra.
"Fui juntando as sílabas
e compreendendo as sentenças e palavras. Quando entrei na escola para fazer o
primário, já sabia ler, escrever e fazer as operações fundamentais. Entrei
tarde, acho que eu tinha 10 anos, eu que pedi para a minha irmã me
matricular", diz. "Eu trazia a caixa na cabeça debaixo de chuva e
sol. Muitas vezes, escorria secreções dos alimentos e das carnes em mim. Eu
parava, descansava um pouco e então seguia para casa."
Entre as obras que encontrou descartadas estavam "O sermão de Santo Antônio aos peixes", do Padre Antônio Vieira, e "A metamorfose", de Franz Kafka, além de "Magnificat" e a cantata "BMV 10" de Bach. O menino também achou livros de biologia, filosofia, teologia, direito e história e passou a colecioná-los em casa. Tudo era lido por ele.
"Amo Bach e Mozart. Junto com os livros, eles me
salvaram. Eles falavam mais alto que a fome e me transportavam para outros
mundos", conta o médico. "Depois descobri Vivaldi e Strauss e comecei
a amar música clássica. Às vezes eu pensava, vendo a vida dos compositores, que
se Bethoven era surdo e fez o que fez, eu não poderia tentar? Eu, mesmo com
fome, mesmo com adversidades, pobre, negro, não sendo homem bonito, conseguiria
chegar lá. E é isso que a gente tem que pensar, que todo esforço é poder."
A inspiração o levou a fazer
um teste para o curso profissionalizante de técnico de enfermagem, que valia
como ensino médio. A ideia veio dos cuidados que ele tinha com a saúde da
família e do gosto por dissecar cachorros mortos ou observá-los ampliados com a
ajuda de uma lente achada em máquina de fotografia Polaroid, também tirada do
lixo. O jovem foi aprovado em segundo lugar na seleção.
Após concluir os estudos,
Cícero decidiu então prestar concurso e passou a trabalhar na Secretaria de
Saúde. O pouco dinheiro já era um alívio diante das dificuldades vividas pela
família, mas o rapaz queria mais. Três anos depois, fez vestibular para
medicina em uma faculdade particular no interior de Minas Gerais, passou e, sem
pensar duas vezes, decidiu enfrentar o novo desafio.
Como não podia abrir mão do emprego, o jovem se dividia
entre os plantões aos fins de semana no
Distrito Federal e as aulas na outra
cidade. O salário seguia contado. "Acabei passando fome, cheguei a
desmaiar em sala. Por vezes, precisei dormir na rodoviária para
economizar", lembra.
O médico Cícero Pereira Batista, de Brasília (Foto: Cícero Pereira/Arquivo Pessoal) |
Um ano e meio depois, o rapaz
conseguiu 100% de desconto em uma instituição de Paracatu (MG) por causa do bom
desempenho no Enem. A faculdade se recusou a aproveitar os três semestres
feitos em Araguari, e Cícero precisou recomeçar os estudos. Seis meses depois,
já em 2008, ele repetiu o resultado e conquistou uma bolsa integral em
Brasília.
"Quando vim, eles aproveitaram algumas matérias,
mas também não quiseram me progredir de período, portanto eu voltei à estaca
zero de novo. Mas eu nunca desisti, continuei trabalhando e fazendo o meu
curso. Eu saía do plantão noturno para a faculdade. Era muita dificuldade,
tinha dias que eu chegava molhado e sujo porque tinha chovido, eu pegava dois
ônibus, e no trabalho eu era obrigado a usar roupa branca", conta.
Sem os custos com passagens
de viagens interestaduais e a mensalidade, Cícero pôde se dedicar melhor às
paixões. Ele virou frequentador assíduo de sebos e passou a comprar mais livros
e vinis. Assim, reforçou a paixão pelos autores e músicos que conheceu por meio
do lixo e pôde estender as noções que já tinha na área. As primeiras compras
para si foram livros da faculdade de medicina e CDs de música clássica.
"Nunca foi fácil, meu dinheiro nunca foi
suficiente, mas eu não cedi. Eu me esforcei, eu não me rendi às adversidades
financeiras, às adversidades das drogas. Eu dormi no meio da rua fugindo das
drogas que tinha dentro de casa muitas vezes. Eu não era morador de rua, eu
tinha onde ficar, mas eu dormia fora para evitar a situação. Nunca usei droga,
nunca botei um cigarro de maconha ou qualquer cigarro na boca, nunca
bebi", explica.
Formado em junho deste ano,
Cícero atualmente trabalha como médico clínico e generalista em dois hospitais
de Águas Lindas e Valparaíso, municípios no Entorno do DF. Ele afirma
reconhecer em muitos pacientes um quadro semelhante ao que viveu. "São
iguais a mim. São pessoas que muitas vezes chegam com fome, chegam doentes
porque não tiveram o que comer"
Para ele, a experiência na
infância acaba o ajudando a cumprir o que considera uma missão. "O médico
muitas vezes tem essa autonomia de aliviar o sofrimento. Eu me formei em
medicina para aliviar o sofrimento de pessoas que estavam como eu."
Futuro
Além de continuar prestando atendimento a quem vive em situação de vulnerabilidade social, o médico planeja a abertura de um consultório particular na capital do país e acumula os sonhos de fazer residência em psiquiatria e especialização em medicina aeroespacial fora do Brasil.
Izaltina Batista e o filho Cícero, na casa da família (Foto: Cícero Pereira/Arquivo Pessoal) |
"Gosto de entender os conflitos humanos, as fugas,
os processos que levam a pessoa à dependência química, à realidade de alguns
familiares meus, como o alcoolismo da minha mãe e o uso de drogas do meu irmão.
Como estas pessoas se entregaram ao vício? Como tratá-las? Como curá-las? Eu
também sempre gostei das coisas do espaço, das estrelas, pois de certa forma
olhar e compreender o céu me aliviavam o sofrimento e a fome e me davam força
para seguir em frente", declarou.
O profissional, que voltou a
morar com a mãe no Chaparral, afirma ainda querer comprar um apartamento para
poder morar sozinho, além de promover melhorias na casa da família. "Está
em pedaços e mofada, e minha mãe por isso tem pneumonias de repetição. Se eu
não conseguir reformar a casa da minha mãe, [quero] tentar comprar uma para
ela."
"Minha mãe está velhinha
e precisa de um mínimo de conforto e paz. Ela cuidou de muitos filhos, já está
na hora de eu cuidar dela agora que eu me formei médico. Não quero que ela
passe fome de novo, não quero que ela viva em uma casa com goteiras e mofo.
Esses últimos ideais são meus sonhos de realização imediata e necessária",
afirmou.
Fonte:
Raquel Morais – G1 DF
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